Está virando clichê esse negócio de chamar qualquer coisa de “experiência”. Mas, nesse caso, não há outra palavra para descrever o almoço no restaurante Locanda di Lucca, no distrito de São Pedro, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Localizado em um cantinho rodeado de natureza, o restaurante funciona em um casarão centenário todo de pedra, onde há uma varanda e uma sala com apenas sete mesas. E a – olha ela aí! – experiência que ele oferece é marcante.
Ao chegarmos, somos recebidos pelo simpaticíssimo – e grande figura – Edgar Giordano, proprietário do Locanda, tocando acordeão. Ao som de músicas italianas, recebemos uma tacinha de espumante para o primeiro brinde, antes mesmo de sermos encaminhados à mesa.
Em seguida, começa uma maratona de deleite, contemplação e muita história. A filosofia da família que toca o restaurante é o máximo respeito à natureza na produção dos ingredientes. Portanto, tudo é orgânico e local.
Enquanto escolhemos o vinho que irá acompanhar a refeição, chega à mesa o primeiro passo do menu de seis, uma caponata de banana com lascas de pão orgânico (foto abaixo). Sinceramente, como diz um jurado de programa de televisão, comeríamos em quantidades industriais essa entradinha. Escolhemos o espumante Cave Geisse Rosé Brut, uma bebida versátil que acompanhou todas as etapas (até a sobremesa!) maravilhosamente bem.
Em seguida, um caldinho de abóbora com crocante de copa e queijo. Uma delícia.
Com a chegada dos pratos, Edgar também vai conversando e explicando a sua filosofia de vida e de trabalho. Estudioso da agricultura biodinâmica (aquela que, além de não haver produtos químicos, ainda são levados em conta os ciclos naturais, como o da lua, por exemplo), ele nos explica que está produzindo uvas e que, em breve, venderá vinhos próprios no restaurante.
Após a sopinha, comemos um ovo pochê com pão de fermentação natural, molho de brócolis e farofa de queijo (acima). É impressionante como, quando comemos ingredientes com essa qualidade, conseguimos sentir o gostinho de cada um, além da magia da gastronomia de juntar todos eles em uma garfada.
Depois, é a vez da salada. E que salada! Cheias de sabor, as folhas vêm com lascas de parmesão, figos frescos, pedacinhos de laranja e molho de mel e mostarda.
Como prato principal, foi servida uma costela suína ao molho de laranja, acompanhada de crispy de couve, purê de peras e arroz sete grãos com coco, cenoura, pimentão e cúrcuma (acima). A costela desmanchava, nem precisamos usar a faca. Uma delícia.
Nesse momento, uma chuvinha bem leve começou a cair lá fora. Com toda a calma que o ambiente pede, chegou a sobremesa: sorvete artesanal de mel com pólen, calda feita de redução de merlot e maracujá negro. Um prato lindo (acima), cheio de cores e de sabores diferentes.
Quando achamos que não havia mais como melhorar, Seu Edgar chega com uma surpresa para nós, que tanto gostamos de desbravar esse mundo do vinho: uma garrafa de um tinto feito por ele (abaixo), com a uva Isabel. Normalmente, ela não é usada para fazer os vinhos finos, só os “de garrafão”. Porém, ele usou essa casta para fazer um vinho fino, ou seja, sem adição de açúcar, para ver como ficava.
A garrafa ainda nem tem rótulo e o resultado não podia ser melhor, apesar de o vinho ainda necessitar de um pouco mais de amadurecimento. “Em cada gole, lembro da minha família. Era um vinho assim que bebíamos quando chegamos ao Brasil”, contou.
Teria como ser mais perfeito? A experiência vai ficar na nossa memória. Um lugar lindo, feito e gerido por pessoas especiais, com imenso respeito à natureza e ao que ela nos dá. Saímos de lá pensando no dia de voltar…
2 Comentários
Precisa fazer reserva para almoçar neste local? Funciona todos os dias da semana?
Oi, Luciana. Precisa, sim, mas você acha o e-mail no site. É bom checar em que dias eles funcionam.
Abraço!