Para quem gosta de viajar, poucas coisas dão mais prazer do que ver as melhores expectativas serem superadas. Assim nos sentimos no Uruguai, onde estivemos em novembro passado em busca de conhecer melhor o mundo do vinho por lá. A partir de hoje, vamos falar sobre o que vimos e bebemos nas bodegas (vinícolas) que visitamos e sobre como nos encantou a variedade, a qualidade e a evolução dos vinhos uruguaios.

Varanda da construção onde está localizada a cave da Bouza, nos arredores de Montevidéu, com vinhedos ao fundo
O Uruguai, pequeno país de 176 mil km² (menor que o Rio Grande do Sul) e população de 3,5 milhões de habitantes, tem poucas vinícolas, principalmente se comparado com Argentina e Chile, seus famosos vizinhos também produtores de vinhos. De acordo com dados de 2015 do INAVI, o Instituto Nacional de Vitivinicultura do país, são cerca de 200 vinícolas, a maioria de origem familiar e produção artesanal. Mais de 75% delas são de pequenas dimensões, com até cinco hectares de vinhedos plantados.
Cerca de 92% dos vinhedos são concentrados no Sul, principalmente em Canelones (66%), região mais próxima de Montevidéu. É lá que ficam algumas das vinícolas que integram Los Caminos del Vino (Os Caminhos do Vinho), projeto da Associação de Turismo Enológico do Uruguai que reúne 18 bodegas familiares.

Parreirais da vinícola Juanicó. Uruguai tem um total de quase 1.600 vinhedos plantados em mais de 7 mil hectares
Visitamos sete delas: Carrau, Juanicó, Castillo Viejo, Bouza, Marichal, H. Stagnari e Artesana. Com pouquíssimas exceções, e apesar da carência de uma melhor estrutura para o enoturismo, encontramos lugares belíssimos, recepção calorosa e atenciosa nas vinícolas, e vinhos muito gostosos.
Ficamos positivamente surpresos com a maioria absoluta dos vinhos que provamos. Principalmente pelo ótimo equilíbrio entre fruta, taninos e acidez, derrubando a antiga impressão que tínhamos sobre a “dureza” da tannat, uva de origem francesa que é ícone do Uruguai. Conhecendo as vinícolas e degustando in loco, não foi difícil entender por que os vinhos uruguaios vão pouco a pouco ocupando um lugar cada vez mais nobre na vinicultura sulamericana.

Vinhos degustados na Marichal, uma das 18 vinícolas familiares que fazem parte da associação ‘Los Caminos del Vino’
Mantendo a sua tradição e resistindo à padronização imposta pelo mercado, eles vêm sendo reconhecidos no cenário internacional. Na 22ª edição do Vinalies, concurso realizado em fevereiro passado na França, vinhos do Uruguai receberam 14 medalhas.
Foram cinco de ouro e nove de prata. Desde a criação dessa que é considerada a competição mais importante do gênero no mundo, já foram 158 prêmios para 32 bodegas do país.
Hotel de vinhos – Antes de partir para mais essa jornada regada a vinho, tivemos uma importante base teórica e prática no hotel em que ficamos, em Montevidéu. Único da cidade com a temática do vinho, o My Suites, situado no elegante bairro residencial de Pocitos, a poucos metros da orla marítima, oferece aos hóspedes, de terça a sábado, degustações diárias de vinhos uruguaios.
Durante uma hora, à noite, o sommelier do hotel conduz uma prova de três vinhos de diferentes produtores do Uruguai. Junto com os vinhos, além de pão e azeites também fabricados no país, o especialista dá um panorama da vinicultura uruguaia e fala sobre as características de diversas vinícolas, entre elas algumas em que estivemos antes ou depois de cada degustação, como foi o caso de Marichal, Castillo Viejo, e H. Stagnari, por exemplo.
Assim como as visitas às bodegas, também essas degustações “em casa” nos ajudaram a entender um pouco mais o novo cenário dos vinhos uruguaios. Em outras palavras, o que vamos tentar contar um pouco por aqui é como a memória dos nossos sentidos – coisas como “os vinhos uruguaios são muito fortes ou exóticos” – foi, felizmente, apagada.
Depois dessa viagem, o estereótipo deu lugar à descoberta de grandes vinhos que, preservando as características da tannat, trazem novas combinações dela com outras cepas que resultam em produtos de alto nível. E que, em vários casos, para nós, superam de longe argentinos e chilenos de maior fama.
2 Comentários
A Vinícola Bouza realmente é uma das mais lindas que já visitei. Infelizmente, na época eu estava grávida e não pude degustar os vinhos. Porém, fiz questão de trazer para casa o famoso Tannat. Assim que pude, experimentei e realmente é tudo aquilo que me falavam. Lembro de ter feito fotos belíssimas do local. Tenho acompanhado o blog de vocês. É um dos poucos que não faz copy e paste das notícias da Revista Wine. Assim como eu, vocês são jornalistas, está aí a diferença… Não basta ser sommelier, tem que saber escrever. Abraços
Obrigado, Sabrina!
A nossa intenção é mesmo essa, falar de um jeito descomplicado, mas sempre contando a nossa experiência vivida nos locais, sobre as coisas que vamos vivendo (e bebendo…rs). A propósito, a nossa ida à Bouza, é claro, estará na série nos próximos dias.
Abraços!