A Andeluna nasceu da paixão de um norte-americano empreendedor pela Argentina. Grande conhecedor do consumo de massa, Ward Lay foi dono da indústria que fabrica a famosa batata Lays, além de presidente da gigante PepsiCo. Essa experiência e o amor pelo mundo dos vinhos fez com que ele criasse a vinícola em 2003. Não é por acaso, portanto, que é possível sentir no lugar essa atmosfera de “grande corporação”, seja no tecnológico processo de produção, seja – é preciso dizer – numa certa impessoalidade e “pasteurização” que a vinícola e seus vinhos nos transmitiram.
Contribuiu muito para a nossa decepção a comparação inevitável entre essa bodega e a Atamisque, também no Valle de Uco, onde tínhamos ido antes. Os grandes vinhos de lá e a identificação total entre a vinícola e o terroir tão característico daquela região são mesmo de se admirar. Já a Andeluna nos pareceu apenas mais uma bodega-empresa fincada naquele que é o novo eldorado de Mendoza, onde o grande capital estrangeiro domina, mas nem sempre tendo como resultado a verdadeira qualidade de em seus vinhos.
Vista de uma parte dos 70 hectares de vinhedos que rodeiam a sede da Andeluna, em Tupungato, no Valle de Uco
A sede da vinícola é bem grande, moderna e elegante. Há um restaurante onde é possível ver os cozinheiros em ação. Infelizmente, não tivemos tempo para experimentar a culinária do local. Nessa área onde os turistas são recepcionados ficam vários sofás com mesas de centro onde são feitas as degustações, além de uma bonita varanda com vista para parte dos quase 70 hectares de vinhedos.
Varanda da bodega com a plantação ao fundo: exportação de 90% da produção anual, que chega a 2,5 milhões de garrafas
Visita – Éramos dez participando do tour pela bodega. Todos brasileiros. O guia, já acostumado, arranhava o português e brincou o tempo todo com o nosso futebol.
Começamos assistindo a uma explicação sobre a história do estabelecimento e sobre o processo produtivo. A Andeluna exporta cerca de 90% da sua produção anual de 2,5 milhões de garrafas.
Em seguida, passamos a uma sala com uma enorme mesa de madeira para degustações. De lá podíamos ver um grande salão, de pé direito alto, cheio de barris de carvalho.
O lugar é lindo, mas, na prática, é usado apenas para receber investidores, não são feitas degustações lá. E até as centenas de garrafas deitadas em prateleiras embutidas na parede são fake: não contêm vinho e servem só como decoração.
De volta à recepção, degustamos quatro vinhos das linhas jovem, reserva e premium. O primeiro foi o Andeluna 1.300 Torrontés. Um branco fresco, mas para nós inferior a vários outros da mesma uva que já provamos.
O segundo, da mesma linha, foi o 1.300 Malbec 2014. Também não nos encantou. O nome desta linha jovem é uma referência à altitude da região onde está a vinícola. Há outros varietais dela, de cabernet sauvignon, merlot, chardonnay, sauvignon blanc e rosé de malbec.
Depois, seguimos com o Altitud Malbec 2013. Este um vinho já um pouco mais complexo que o primeiro tinto, que passa 12 meses em barris de carvalho de primeiro uso. Apenas correto.
Por fim, provamos o Passionado Cuatro Cepas 2012, tinto ícone da bodega. Esse especificamente (há outros dois que são varietais de malbec e cabernet franc) é uma combinação de quatro tipos de vinhos, é um blend de vinhos já prontos (e não de uvas): malbec, merlot, cabernet sauvigon e cabernet franc. Interessante, mas longe de ser arrebatador, na nossa opinião.
Saímos de lá sem levar nenhuma garrafinha e com uma sensação de termos visitado algo grandioso, mas sem uma característica própria, sem alma. Como a Andeluna coleciona vários prêmios, talvez nós que não tenhamos entendido muito a proposta dos seus vinhos. Ou talvez apenas não tenhamos dado sorte naquele dia. Pode acontecer com as melhores vinícolas e com os mais bem-intencionados visitantes.
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