A visita à Peterlongo, em Garibaldi, é carregada de história. A primeira delas é o fato de essa ser a única vinícola no Brasil a poder usar em seus espumantes o nome de champanhe. A bebida borbulhante somente pode ser assim chamada quando produzida na região de Champagne, na França.
Tudo começou quando o imigrante italiano Manoel Peterlongo chegou ao sul do Brasil, em 1899. Alguns anos depois, em 1913, ele iniciou a produção de espumantes de acordo com os ensinamentos do abade francês Dom Perignon, pelo chamado método champenoise. Seguindo à risca esse tipo de elaboração de vinhos espumantes, o mesmo utilizado pelos franceses, é lançado, em 1915, o primeiro champanhe brasileiro.
Sede da vinícola Peterlongo, em Garibaldi, até hoje fica localizada no lindo castelo construído nos anos 30
O castelo onde fica a sede da vinícola foi construído na década de 30 e também segue os padrões das construções de Champagne, na França. Há uma cave subterrânea, a primeira do Brasil, de cerca de 10 mil metros quadrados. A construção é toda feita com pedra basáltica, o que faz com que a temperatura fique em 18 graus durante todo o ano.
Fama e batalha pelo uso do nome ‘champanhe – Ao longo do século XX, o champanhe brasileiro ganhou notoriedade e estava presente tanto nas comemorações familiares como nas principais solenidades oficiais do Brasil. O presidente Getúlio Vargas era um fã do espumante, o que ajudou a aumentar a notoriedade da bebida. Oferecido em um dos banquetes do presidente, o champanhe brasileiro foi elogiado pela rainha Elizabeth, da Inglaterra, quando esteve por aqui.
O exterior das caves da vinícola: construção com pedras basálticas, que mantêm internamente temperatura de 18 graus
Apesar do sucesso do empreendimento, Manoel Peterlongo se preocupava pois precisava de alguém que pudesse assumir a administração da vinícola. Somente homens poderiam ficar nesse comando na época. Manoel tentou oito vezes e só teve filhas. Na nona tentativa, veio Armando, que se tornou o dono da Peterlongo.
Durante muitos anos, o sucesso do champanhe no Brasil era enorme. No entanto, a comissão de Champagne, na França, moveu um processo para que a Peterlongo parasse de usar a denominação “champanhe” para seus espumantes. Depois de 40 anos na Justiça, em 1972, o Supremo Tribunal Federal autorizou o uso do termo.
A visita ao castelo da vinícola começa com a apresentação de um vídeo em que podemos aprender um pouco sobre o início dessa história. Depois, vamos ao local onde ficam os tanques de fermentação.
Passamos por uma sala-museu onde estão vários equipamentos usados na produção dos vinhos antigamente e onde está uma antiga publicidade, que foi censurada por ser muito “ousada”. Anos mais tarde a fotografia foi usada no cartaz da Festa da Uva de 1950.
Primeira cave subterrânea do Brasil. Ao fundo, grade do antigo túnel de refrigeração natural usado na fabricação
Cave subterrânea e degustação – Em seguida, chegamos ao local onde as garrafas ficam guardadas, e é emocionante saber que estamos na primeira cave subterrânea do Brasil. A linha mais nobre dos champanhes da vinícola fica durante três anos armazenada e só depois vai para as “prateleiras” onde são giradas de forma manual, diariamente. Esse processo faz parte do método champenoise.
Nessa parte da grande cave há um túnel com saída para a parte externa do castelo. Com o vento encanado nesse túnel, décadas atrás (quando as temperaturas na Serra Gaúcha chegavam a ser negativas), era possível congelar o líquido das garrafas, para que as leveduras que fazem a fermentação dentro da garrafa pudessem ser retiradas. Hoje em dia esse processo é feito de forma automatizada e dura dois segundos.
Após o passeio, fomos, enfim, beber. Experimentamos 6 espumantes, todos elaborados com as uvas pinot noir e chardonnay: o Prosseco Brut, o Champanhe Brut, o Champanhe Extra Brut, o Peterlongo Elegance, o Peterlongo Nature e o Presence Moscatel, um vinho de sobremesa.
O guia do nosso passeio pela vinícola nos contou que a Peterlongo passa por um momento em que está readquirindo a credibilidade na qualidade de seus produtos. Comandada pelos genros do antigo dono durante muitos anos, os champanhes começaram a perder a qualidade pois qualquer bebida produzida era assim chamada, mesmo que não cumprisse padrões de controle rigorosos.
Isso prejudicou bastante a imagem da vinícola no mercado. No entanto, agora está sendo feito todo um trabalho para recuperar a qualidade e, aos poucos, o prestígio dos champanhes Peterlongo.
Nós achamos os espumantes muito bons. Mesmo assim, na nossa opinião, o fato de serem produzidos pelo mesmo método champenoise não é o que garante que sejam os “verdadeiros” champanhes.
De toda forma, é mais do que sabido que grandes espumantes, como também encontramos por exemplo na nossa visita à Cave Geisse, na mesma Serra Gaúcha, podem ser sim produzidos no Brasil ainda que não devam ser chamados de champanhes. Estamos aprendendo, ao longo dessa curtíssima jornada no mundo dos vinhos, que a terra, o clima e a maneira como as uvas são cultivadas são determinantes para o resultado final.
Nem melhor nem pior, mas as duas produções são diferentes por causa desses e de vários outros fatores, regras, regulamentações etc. Mas que é chique ter um champanhe brasileiro, isso é!
2 Comentários
Olá,
Muito bom seu post, fiquei louca pra conhecer.
Gostaria de saber se preciso agendar para fazer a visitação, qual o valor e quanto tempo demora a visita toda.
Fico no aguardo.
Obrigada.
Oi, Tatiane! Que bom que gostou!
Olha, nós agendamos por e-mail, sim. A visita é incrível e dura cerca de uma hora. Não lembro mais o preço, mas você pode conferir no site oficial da Peterlongo: http://www.peterlongo.com.br/pt/
Um abraço, apareça sempre no blog!