Sempre que vamos à Serra Gaúcha, um programa é certo: almoçar ou jantar no Maria Valduga, restaurante da tradicional Casa Valduga, no Vale dos Vinhedos. O rodízio de comida típica italiana – com salada, polenta, dez tipos de massas artesanais, galeto e costela suína – é muito bom e em nada lembra alguns que já experimentamos na região e que sempre nos pareceram “pesados”. Além disso, como acompanhamento, claro, há diversas opções de bons vinhos dessa que é uma das dez maiores vinícolas do Brasil.
Há pouco mais de duas semanas, quando voltamos lá, levamos um casal amigo que também pôde constatar a ótima gastronomia do lugar. Dessa vez, escolhemos para acompanhar o farto almoço o Leopoldina Merlot 2012, safra que é considerada histórica na região pela qualidade dos vinhos que resultaram dela. Quando acabamos de comer e beber, decidimos conhecer um pouco mais a propriedade.
Qualidade nos detalhes – Apesar de ser uma empresa grande, a Valduga tem no cuidado com os detalhes um dos seus pontos fortes, como é mais comum de acontecer com as vinícolas menores, chamadas “boutiques”.
Seja no atendimento, na preservação das áreas históricas, na variedade de produtos disponíveis na loja, ou na explicação paciente e detalhada durante a degustação, é nítido o zelo de todos pela imagem de uma marca construída ao longo de pouco mais de 140 anos de existência. Uma das pioneiras no desenvolvimento do enoturismo naquela região, a Valduga criou, em 1992, um complexo turístico.
Além do restaurante, há vinhedos – incluindo os históricos parreirais centenários (foto que abre esse texto), cave de vinhos (onde há visitas guiadas), loja e cinco pousadas. Elas têm apenas 24 acomodações no total e levam os nomes dos vinhos icônicos da vinícola: Raízes, Leopoldina, Identidade, Gran e Storia.
Um desses vinhos, o Raízes Cabernet Franc, safra 2012, acaba de ser premiado, junto com o espumante Valduga Extra Brut 2010, com a medalha de ouro no Vinalies Internacionales 2016. O concurso é realizado anualmente na França.
O tinto foi o único vinho brasileiro “não-espumante” a ficar na primeira colocação. A edição deste ano reuniu cerca de 3.500 amostras de todas as regiões vinícolas do mundo.
Na loja da vinícola, degustamos gratuitamente dois vinhos. Isso porque resistimos à oferta do vendedor, que nos deixou à vontade para experimentar outros ou algum espumante.
Provamos justamente o recém-premiado Raízes 2012, feito com a uva cabernet franc, e ainda o Identidade 2013, da uva marselan. Levamos os dois com ótimo custo-benefício: com o desconto por serem comprados lá, saíram em torno de R$ 60, cada.
História – A saga dos Valduga começa em 1875, quando os primeiros imigrantes da família desembarcam no Brasil. Vindos da cidade de Rovereto, norte da Itália, cultivam os primeiros parreirais no coração do Vale dos Vinhedos.
A partir dali eles criaram e desenvolveram, ao logo de quase um século e meio, a empresa que atualmente exporta para mais de 20 países, entre eles França, Inglaterra, Espanha, Estados Unidos e Argentina. Até hoje, a vinícola continua comandada pela família, por meio dos irmãos Erielso, Juarez e João Valduga e seus filhos.
Toda essa carga histórica familiar está muito presente ao se percorrer a propriedade, inclusive no já citado restaurante, com o qual abrimos e vamos fechar esse relato. Isso porque ele era inicialmente a pequena cantina do pioneiro Luiz Valduga e onde a família deu os primeiros passos na fabricação de vinhos.
Era ali que Dona Maria, a matriarca da família, preparava e servia as comidas tipicamente italianas. Assim, ela foi a precursora da enogastronomia do Vale.
Passado e presente parecem se juntar nesse espaço. No salão principal, a harmonia é dada pela união do rústico, ressaltado pelo basalto da construção, a uma decoração contemporânea, coroada por uma adega climatizada (a 16ºC) onde estão expostos os principais vinhos da casa.
No ambiente que fica no piso superior, que nós nunca vimos em uso, há mesas feitas a partir de barricas que um dia já armazenaram vinhos. E, ao lado do salão principal, fica outra sala, menor, também cheia de história: chamada Cave das Pipas, é lá que ficam as primeiras pipas, centenárias, onde antigamente os vinhos amadureciam. Nela há uma única grande mesa de madeira, onde cabem até 50 pessoas. Vale muito a visita.
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