Acabamos de almoçar no restaurante Equilibrio, da Viña Matetic, apaixonados pelo vinho com o qual havíamos acompanhado nossos pratos à base de carne: o Corralillo Syrah 2014. Encorpado, mas não muito, gostoso e “redondo”, ele nos preparou para conhecer a vinícola em si, sua história, seus outros vinhos. Logo depois da refeição, embarcamos na van do hotel La Casona – que fica dentro da propriedade – rumo aos vinhedos e às dependências onde se produzem os vinhos da Matetic.
O guia nos esperava num bonito mirante e, com o horizonte de vinhedos a perder de vista (foto acima), começou a nos contar a história da Matetic. A vinícola chilena foi pioneira na produção da uva syrah em clima frio – com o vinho EQ Syrah 2001. Localizadas a poucos quilômetros do Oceano Pacífico, as vinhas recebem influência de brisas marítimas frescas, o que dá maior acidez e um toque mineral muito interessante ao vinho.
No mais, “EQ” vem de equilíbrio. Começávamos a entender a razão pela qual, momentos antes, um dos seus syrahs (abaixo) nos tinha encantado tanto no aroma e no paladar, com sua fruta presente, mas ao mesmo tempo leve e com um frescor que o torna tão fácil de beber. Trata-se de um estilo de syrah bem diferente, por exemplo, daqueles mais estruturados e “maduros” da região do Rhône, na França.
Da Croácia para o Chile – A história dos Matetic no país começou em 1892, quando eles chegaram vindos da Croácia. No entanto, demorou mais de cem anos até que entrassem para o negócio do vinho.
Foi só em 1999 que os herdeiros da quarta geração da família, depois de estudos de solo e das condições climáticas daquele local no Vale de San Antonio, a 13 km em linha reta do oceano, plantaram ali os primeiros 33 hectares de vinhedos. Hoje, são mais de 150 hectares que incluem vinhedos também no vizinho Vale de Casablanca.
Visita – Seguimos o tour com um passeio pelo interior da moderna sede (acima) com capacidade para 600 mil litros. O prédio, inaugurado em 2003, foi todo pensado arquitetonicamente para permitir que a força da gravidade atue no processo de vinificação, desde a recepção e seleção das uvas até a guarda em barricas (não há bombas de sucção para encher as cubas de fermentação, tudo é feito por gravidade).
As lindas salas de barricas (foto abaixo) ficam no subsolo, onde as paredes de pedra mantêm a temperatura entre 14 e 15 graus. São três, com capacidade para armazenar quase 1.800 barricas de carvalho francês, nas quais os vinhos ficam entre 12 e 22 meses, de acordo com cada linha de produtos.
Nessas salas ficam também algumas cubas em formato de ovo (ao fundo, na foto acima), como as que vimos na vinícola Dominio del Plata (em Mendoza). O formato biodinâmico faz com que o liquido esteja permanentemente se misturando sozinho: a parte de cima, onde acabam se juntando os sedimentos (como as cascas da uva), desce, e a de baixo, sobe. Segundo os enólogos, dessa forma o processo é mais suave e o vinho adquire um caráter mais frutado.
Degustação – Fizemos a degustação de quatro vinhos, todos da linha EQ e disponíveis na loja da vinícola (abaixo). Começamos por um branco de sauvignon blanc da safra 2016. Costumamos gostar muito dessa uva em vinhos chilenos e dessa vez não foi diferente, com aquele aroma que lembra limão e uma acidez muito boa para beber até como aperitivo, sem comida.
Depois passamos para um chardonnay 2014 (abaixo, em primeiro plano). Esse já é um vinho com passagem de seis meses na barrica. Com três anos de safra e “amadeirado”, pede um acompanhamento, como uma massa ou até mesmo sobremesas não tão doces, segundo nos assegurou o guia.
Fechamos com dois tintos. Primeiro um pinot noir 2013, que de tão “leve” casaria bem com as mesmas comidas que acompanhariam o chardonnay anterior. Tinha aroma de cereja e descia fácil, fácil…
Em seguida, fechamos com o syrah 2013, diferente daquele que bebemos no almoço. Era mais encorpado, até porque passa oito meses na madeira e mais três na garrafa antes de ser comercializado. Muito, muito bom.
No entanto, nós gostamos mais foi do Corralillo mesmo. De uma linha mais básica da vinícola, mostrou-nos, mais uma vez, que nem sempre os ditos “top” são necessariamente os melhores. Até porque os melhores vinhos, no fim das contas, são mesmo aqueles dos quais você mais gosta – e sempre cabe mais um nessa lista!
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