As instalações da Viña Errazuriz dividem-se entre uma grande casa em estilo colonial (foto abaixo) – da época de sua fundação, em 1870 – e outra edificação, de linhas futuristas e formato arredondado (foto que abre este post), inaugurada em 2010 para a produção dos vinhos chamados de “alta gama”. Essa convivência do antigo com o novo vai além de um simples “duelo” arquitetônico. Ela traduz muito da filosofia da vinícola, que se moderniza sem esquecer a sua história de pioneirismo na cena vitivinícola do Chile.
A Errazuriz tem um total de 1.200 hectares de vinhedos em diversas regiões do país, incluindo os do Vale do Aconcagua (na foto abaixo, uma parte deles), onde fica a sede, e ainda os vales do Colchagua e de Casablanca, entre outros. É uma vinícola de grande porte, com produção anual de aproximadamente 10 milhões de garrafas, quase toda ela (98%) destinada à exportação. Os principais mercados são Estados Unidos, Reino Unido e Brasil.
História – A trajetória da família começou há quase 150 anos com Don Maximiano Errazuriz, empreendedor de origem basca que praticamente descobriu aquelas terras. Quando a maioria dos vinhedos era plantada nos arredores de Santiago, ele chegou à região depois de dois dias de cavalgadas e decidiu construir ali a vinícola e fazer vinhos com videiras importadas da França.
Já nos primeiros tempos a vinícola contava com 300 hectares de terra. Don Maximiano ergueu na região um povoado modelo, que chamou de Vila Errazuriz, com casas para os trabalhadores, escola e igreja. De lá para cá, a família conduziu o negócio que se mostrou vitorioso. Entre os marcos, a reconstrução depois do grande terremoto de Valparaíso em 1906 e o pioneirismo em plantar a uva syrah no Chile, em 1993.
Visita – Fizemos a visita num fim de tarde ensolarado de abril. Primeiro, conhecemos o subsolo da casa principal enquanto a guia contava a história da família. Na foto anterior, a rampa e a porta que esconde esse tesouro do século XIX.
É lá que fica a “Bodega Histórica”. No percurso por ela, não há como não se impressionar com a beleza da construção e de lugares como a sala de barricas, a histórica sala subterrânea de degustações (nas fotos acima) e a adega da família (abaixo), onde repousam 400 garrafas de cada um dos vinhos ícones da vinícola – valioso registro para conhecer a evolução deles através dos anos.
Ali ficam expostos, também, exemplares do tinto Viñedo Chadwick. A safra 2014 desse vinho alcançou os incríveis 100 pontos na avaliação do renomado crítico americano James Suckling.
Em seguida, saímos da casa e cruzamos uma parte dos vinhedos até chegar à “Bodega Icono Don Maximiano”. Ele começou a ser erguida em 2009 e foi inaugurada no ano seguinte.
Com capacidade para produzir quase 350 mil litros por ano, é utilizada na elaboração dos vinhos mais nobres da vinícola. Lá está localizada uma das salas de degustação mais bonitas que já vimos (acima), debruçada sobre os vinhedos.
A tecnologia ali é de ponta. O corpo principal da construção – onde estão os tanques de fermentação (foto acima) – fica debaixo da terra e sua forma em espiral permite que todos os movimentos das uvas e dos líquidos sejam realizados por gravidade (não há necessidade do uso de bombas). Além disso, o edifício capta as brisas frias do vale e a energia solar é utilizada para o controle de temperatura e iluminação.
Degustação – Terminada a visita, era hora de provar os vinhos no balcão do bar que fica no bonito salão da casa sede (acima). Tínhamos agendado uma degustação simples, de quatro vinhos Max Reserva, a linha “mediana” da vinícola. Não provamos nenhum dos ícones e isso pode ter causado não uma decepção, mas aquela sensação de não ter achado “isso tudo”, sabem como é?
A grata surpresa para nós foi logo o primeiro vinho, o sauvignon blanc 2016 (abaixo, o primeiro da esq, para a dir.): fresquíssimo e muito saboroso. Ideal para aperitivo, refrescante, com aromas e paladar cítrico, lembrando abacaxi e, sobretudo, maracujá. Trouxemos dois dele e nenhum dos outros três (todos tintos) nos agradou tanto.
Passamos aos tintos em seguida, começando com o merlot 2014. Um vinho médio, por assim dizer, bom para acompanhar uma massa no dia a dia ou mesmo para beber uma taça solitária. Nada demais.
Depois foi a vez do carmenere 2015: bom, mas com sabor muito marcado de especiarias. Finalmente, experimentamos o cabernet sauvignon (2015 também), sem dúvida o melhor entre os tintos.
Terminávamos naquele momento, satisfeitos e felizes, o dia que tinha começado, mais cedo, com o tour na Viña San Esteban, do outro lado do Aconcagua, onde fomos “enólogos por um dia”. E assim encerrávamos a visita à primeira região de vinhos que conhecemos no Chile. No dia seguinte, haveria muito mais.
1 Comentário
Parabéns pelo blog. Gosto muito da forma detalhada e sincera que escreve sobre as visitas aos vinhedos e as degustações realizadas.