A partir de hoje, o Botequim do Vinho começa a contar suas aventuras por alguns dos melhores e mais desejados vinhedos do mundo: os da Borgonha, na França. Uma viagem no tempo, onde, há séculos, o vinho é meio de sustento, modo de vida e alma de uma cultura.
A viagem para a Borgonha foi planejada em detalhes, mas sempre com margem para que pudéssemos nos perder em meio a imprevistos e curiosidades do caminho. Nosso objetivo era percorrer a Côte D´Or, a chamada Champs Élisées dos vinhedos da Borgonha. A Côte D´Or se divide em duas partes, a Côte de Nuits e a Côte de Beaune. No primeiro dia, faríamos a primeira parte, visitando as plantações da uva pinot noir e bebendo vinho tinto. Já no segundo, seria a vez de conhecer os vinhedos de chardonnay e beber principalmente vinho branco, indo da cidade de Beaune até a comuna de Santennay.
De Paris, pegamos um trem às 6h53 da manhã de uma sexta-feira de agosto, na Gare de Lyon, com destino a Dijon. A cidade, considerada a capital da região da Borgonha, tem uma excelente estrutura de apoio ao turista. Chegamos às 8h34 e conseguimos encontrar todos os serviços necessários para o passeio ainda na estação de trem, a Gare de Dijon.
Já tínhamos feito a reserva do carro e, ao chegar ao guichê da locadora, a recepcionista já estava com um envelope com os nossos dados e a chave do nosso carro. Um motorista nos levou até a garagem e, depois de demorarmos um pouco até descobrir que é necessário pisar na embreagem para ligar o carro (!), ganhamos as ruas de Dijon rumo à Route des Grands Crus, rota pela qual é possível percorrer as principais plantações de uva da Borgonha.
Sabíamos que, para ir por dentro das comunas, conhecendo cada cidadezinha, tínhamos que pegar a estrada secundária e não a rodovia principal. As duas são sinalizadas como Route des Grands Crus. Seguindo o mapa que pegamos no Office de Turisme de Dijon, chegamos até uma rua que estava interditada para obras e quase caímos na estrada que não era a que queríamos. Rodamos em círculos por algum tempo, mas, de repente, quando olhamos para o lado, estávamos ali: no meio de quilômetros e quilômetros de vinhedos, com suas uvinhas se destacando na paisagem. Era o nosso tão sonhado encontro com a pinot noir da Borgonha.
Tínhamos chegado a Marsannay, a primeira cidade do roteiro. Paramos no Office de Turisme. Uma senhora simpática nos recebeu e perguntamos sobre a localização do Chateau de Marsannay, um dos maiores e mais turísticos produtores da região.
Ela nos explicou que estávamos bem perto. Como a sede aumentava e não tínhamos certeza se lá já haveria degustação de vinhos, perguntamos sobre lugares onde poderíamos beber. E a velhinha, com um sorriso maroto – de quem sabe que, no fim das contas, todo mundo que chega ali quer mesmo é beber vinho –, disse:
– Ah! Oui! Não se preocupem, há degustações em toda parte!
E assim, em mais alguns minutos chegávamos à nossa primeira visita e primeira degustação dos tão desejados vinhos da Borgonha.
Ali começaríamos a entender os motivos que levaram Chico Buarque, quando perguntado certa vez sobre o vinho que para ele era o melhor do mundo, a simplesmente dizer: “Bourgogne, Bourgogne”.
0 Comentário