A visita pelas caves da Veuve Clicquot é cheia de descobertas históricas. Uma delas: durante as guerras que assolaram a região de Champanhe, os túneis subterrâneos onde ficam as caves foram usados como local seguro para abrigar pessoas e tiveram trechos que serviram até de “hospital” para cuidar dos feridos. Nas paredes, há cruzes vermelhas indicando onde eram esses espaços. Mas a grande surpresa para nós foi a inusitada história das garrafas de champanhe da marca que foram encontradas em 2010, por acaso, no fundo do Mar Báltico.
Quase no fim da visita, pudemos ver de perto, em um lugar que mais parece um santuário, uma daquelas 47 garrafas de Veuve Clicquot encontradas entre os destroços de um navio que afundou há quase dois séculos (foto que abre este post). Elas eram parte de um total de 168 garrafas achadas a 50 metros de profundidade por um grupo de mergulhadores suecos.
Após uma série de estudos, pesquisadores descobriram que entre elas havia os champanhes produzidos pela grande maison, entre os anos de 1839 e 1841. As garrafas são tidas como verdadeiros tesouros. Em um leilão realizado em 2011, um Veuve Clicquot proveniente do naufrágio foi arrematado por 32.400 dólares.
Foi realmente impressionante saber que estávamos diante de uma garrafa de champanhe intacta e que ficou no fundo do mar por quase 200 anos. Quando a primeira garrafa encontrada foi trazida à superfície, em julho de 2010, a rolha estourou por causa da diferença de pressão. Os mergulhadores provaram o líquido e viram que ainda era o precioso vinho borbulhante – e muito, muito bom.
Garrafas de champanhe produzido entre os anos de 1839 e 1841 encontradas no fundo do Mar Báltico (Foto: divulgação)
Em novembro do mesmo ano, especialistas puderam analisar o champanhe e tiveram uma surpresa: estava ótimo, em perfeitas condições de consumo. Apenas um pouco mais doce do que o habitual. Segundo os profissionais que pesquisaram documentos antigos das casas produtoras e analisaram o produto, isso pode ser resultado do gosto dos europeus na época por uma bebida mais doce.
Também foram encontradas algumas correspondências de Madame Clicquot que indicavam que o mercado russo gostava de um vinho ainda mais doce do que os consumidores de outros países. Pelo local onde o navio foi encontrado, na costa da Finlândia, muitos acreditam que a carga estaria indo para a Rússia.
Uma ‘adega-cofre’ levou, em 2014, novas garrafas para envelhecerem por 40 anos no fundo do mar (Foto: divulgação)
‘Cellar in the Sea’ – Em 2014, intrigada com a evolução dos champanhes dentro das garrafas que ficaram anos no Mar Báltico, a famosa maison francesa resolveu construir uma adega-cofre feita especialmente para o envelhecimento submarino. Uma seleção de Yellow Label não-vintage, Rosé Vintage 2004 e vinhos demi-sec foi colocada dentro do recipiente e enviada a 40 metros abaixo da superfície do mar.
A experiência deverá durar 40 anos, até 2054, mas as garrafas serão retiradas das profundezas regularmente e para serem analisadas pelos chefes das caves da Veuve Clicquot. A ideia é entender como ocorre todo o processo de evolução do champanhe nesse ambiente criado inteiramente pela natureza. O projeto, batizado de “Cellar in the Sea” (Adega no Mar), é visto como uma experiência absolutamente inovadora no mundo.
O privilégio de ter visto a garrafa centenária e histórica foi indescritível. Agora, vamos sonhando com a possibilidade de um dia beber um champanhe que tenha passado tanto tempo no fundo do mar. Quem sabe, a Veuve Clicquot não servirá como exemplo para outros produtores e, daqui a alguns anos, seja comum usar o mar como cave de envelhecimento? Sonhar não custa nada.
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