Saímos da casa (literalmente) do enólogo Patrick Soutiran – cuja família há três séculos produz champanhes em Ambonnay – muito bem impressionados com a simplicidade do lugar e a qualidade dos produtos que provamos por lá. De volta à nossa rota, passamos pelas pequenas aldeias de Bouzy, Mareuil-sur-Ay e Ay (onde fica a sede do renomado champanhe Bollinger) até chegar a Epernay, que seria a nossa base em Champanhe para visitas a caves, grandes maisons e pequenos produtores.
A pequena Place de la République é um ponto central da cidade, onde há muitos bares, restaurantes e cafés
Epernay e Reims são, por assim dizer, os dois corações de Champanhe. Disputam o título de “capital” da região.
Não importa. Se Reims é a cidade onde os reis franceses eram coroados e onde se localizam “grifes” como Veuve Clicquot, Pommery e Taittinger, Epernay abriga gigantes como Moët & Chandon e Mercier e também as principais organizações do setor.
Entre elas, o Syndicat Général des Vignerons (o sindicato dos enólogos da região) e o Comité Interprofessionnel des Vins de Champagne (entidade que reúne os profissionais que trabalham na vitivinicultura local).
Avenue de Champagne, principal artéria da cidade, onde ficam ‘maisons’ como Moët & Chandon e Mercier, entre outras
As cidades se complementam em beleza, história e opções que giram em torno dessa grande bebida. Com menos apelo em relação a fatos da história da França do que Reims, Epernay parece respirar champanhe de forma ainda mais intensa do que a “concorrente”. Assim que entramos na cidade, enquanto procurávamos o nosso hotel, de imediato ficamos nos divertindo com a leitura das placas das ruas pelas quais íamos passando. Era Rue Eugène Mercier aqui, Rue Jean Chandon Moët ali, Rue Jean Moët acolá e, claro, a Avenue de Champagne.
Luzes projetam nome da Moët & Chandon na calçada em frente à sede da empresa, na noite da Avenue de Champagne
Deixamos as coisas no hotel e fomos direto beber uma tacinha de qualquer champanhe local para relaxar. Paramos no turístico Café le Progrès, na Place de la République, ponto central da cidade. Ótimo. Um brut e um rosé “quaisquer” (foto que abre este post) e pronto: estava dada a largada.
Lojas de venda e degustação de champanhe estão por toda parte em Epernay; algumas ficam abertas até tarde da noite
Champanhe por toda parte – Andando pelas ruas, a gente topa o tempo todo com bares, cafés, restaurantes, bistrôs e lojas em que a bebida – junto com tudo o que gira em torno dela – é a grande razão de ser. Nesse caminho, a grande artéria é a Avenue de Champagne, estrela maior da cidade.
A avenida mais famosa da cidade também abriga a linda sede da prefeitura (foto) e o ‘Office de Tourism’
É lá que ficam, além do Office de Tourism e da bonita sede da prefeitura, casas como Moët & Chandon, Pol Roger, Mercier, Perrier Jouët e De Castellane, entre dezenas de outras nem tão conhecidas assim. Só poder olhar para as fachadas de marcas que a gente ouve falar desde sempre já vale a viagem.
Andamos pela “Champs-Élysées” de Epernay de noite e de dia, quase que para poder acreditar que estávamos ali (em outro post, falaremos das maisons menos conhecidas que visitamos nessa avenida). Na primeira dessas caminhadas, logo na entrada da Moët & Chandon, deparamo-nos com a estátua de um irresistível personagem com o qual turistas do mundo inteiro, como nós, esbaldam-se em fotos e selfies: Dom Pérignon, conhecido como o inventor do champanhe.
A ele, um abade do século XVII, creditam-se (para alguns erroneamente) a “descoberta” das bolhas em vinhos normais. Mas há pesquisadores para os quais, na verdade, algo que ele quis evitar foi justamente a efervescência, pois isso levava muitas garrafas a explodirem na época.
Muitos afirmam que a maior herança que ele nos deixou foi a arte do corte (ou assemblage, que é a “mistura” de vinhos de várias partes da região na elaboração do champanhe). Curiosamente, a Moët & Chandon só produz o rótulo Dom Pérignon – o mais prestigioso da casa – como um champanhe cuvée ou vintage, ou seja, com as melhores uvas de apenas um ano (uma safra) que tenha sido especialmente bom. Isso dá a esse tipo de champanhe uma característica especial sobre os demais: a estampa do ano (safra) no rótulo.
Na Av. de Champagne, produtores pouco conhecidos do público em geral também abrem suas bonitas casas para degustações
Por isso é que não existem champagnes vintage todos os anos, como acontece com os vinhos normais. Mas a maioria dos champanhes, por outro lado, como ensinou Dom Pérignon (o abade), são produzidos por uma mistura de vinhos elaborados a partir de uvas colhidas em anos diferentes…
Enfim, coisas dessa bebida que é sinônimo de glamour, festa e alegria, mas que também tem muita história para contar.
0 Comentário