Na esquina da rue de Bourbon Le Château com a rue de L’Échaudé, no bairro de Saint Germain, fica uma das mais autênticas lojas de vinhos de Paris. Na “La Dernière Goutte” (“A Última Gota”), verdadeiro oásis para os amantes do vinho num dos bairros mais tradicionais da cidade, é possível ainda agendar aulas e degustações exclusivas. Foi o que fizemos numa tarde/noite de inverno que ficou na lembrança e que valeu muito a pena.
Havíamos marcado, semanas antes pela internet, uma aula-degustação para às cinco da tarde de uma segunda-feira em que estaríamos na cidade. Chegamos pontualmente e fomos recebidos pelo proprietário, Juan Sanchez (foto acima), um americano de origem cubana que há quase 20 anos foi fazer a vida na França. Apaixonado por vinhos, hoje, além da loja – e de viajar constantemente pelo país para conhecer e buscar produtos de pequenos produtores –, ele tem quatro restaurantes no mesmo bairro.
‘La Dernière’ com suas paredes de pedras e prateleiras cheias: atmosfera ideal para aprender sobre (e beber) vinhos
Sanchez mesmo comanda a degustação, que é precedida por uma bela explicação sobre os vinhos franceses, as regiões produtoras e suas particularidades. Tudo com muita ênfase no trabalho de milhares de pequenos viticultores artesanais espalhados por essas regiões (e cujos vinhos são a especialidade da Dernière Goutte).
Ele é expansivo, mostra mapas, fala muito e a todo momento faz observações e comentários instrutivos para quem busca conhecer mais o universo do vinho. Felizmente, nada ali é “xaropada para turista ver”. Um achado.
O encontro acontece na parte de trás da loja, que tem uma atmosfera muito aconchegante. Você se sente como se estivesse em um agradável clube de vinhos – lembrando, é claro, o charme a mais que é olhar pela janela de vez em quando e lembrar que está em Paris…
Depois, sempre detalhando um pouco mais quem são os produtores (algo que na França faz toda a diferença em termos de qualidade dos vinhos), Sanchez começa a degustação. São nada menos do que sete vinhos (dois brancos e cinco tintos), cujas garrafas custam entre 10 e 33 euros, para o caso de você querer comprar no fim. Nós gostamos muito da maioria deles.
O mais bacana é a possibilidade de provar coisas novas. Assim, aprendemos sobre vinhos de apelações (locais de origem) que não conhecíamos (como Vouvray, Moulis, Collioure, entre outras) e elaborados com uvas algumas das quais nunca tínhamos ouvido falar (como macabeau, mourvédre e cinsault).
Os vinhos brancos que provamos foram os bons Domaine La Tour Vieille (2015), de Coullioure, e Domaine François Chidaine (2015), de Vouvray. Em seguida, passamos aos seguintes tintos, nesta ordem: Domaine Pothiers (2015), da Côte Roannaise (muito interessante, um tinto fresco e diferente do que estamos habituados); Domaine Bobinet (2015), de Saumur-Champigny; Domaine Tollot-Beaut (2014), de Chorey-les-Beaune (100% pinot noir, com a sutileza própria dos bons tintos da Borgonha); Château Biston-Brillette (2012), de Moulis; e o es-pe-ta-cu-lar Clos du Mont Olivet (2006), da icônica apelação de Chateaneuf-du-Pape, na região francesa do Rhône.
Ufa! Compramos duas garrafinhas e saímos acompanhamos, ao longo de dois quarteirões, pelo Sanchez, que fez questão de passar na porta de seus quatro restaurantes nos arredores e nos falar um pouco sobre eles. Cada um parecia mais interessante do que o outro, mas naquele momento só queríamos andar um pouco e curtir ainda mais aquela alegria, aquela cidade.
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