Para planejar a viagem ao Uruguai tivemos como ponto de partida as informações do site Los Caminos del Vino, grupo formado por 18 vinícolas familiares que tem como objetivo promover o enoturismo por meio de visitas e degustações. Lá tivemos acesso aos contatos de cada uma das vinícolas e marcamos as visitas com antecedência nas que escolhemos, o que é essencial para que tudo dê certo. Uma dessas foi a Artesana.
Desde o começo, ela nos chamou atenção por ser uma bodega bem pequena, com uma produção de aproximadamente 30 mil garrafas por ano. Sua sede fica na região de Las Brujas, em Canelones, a cerca de 30 quilômetros de Montevidéu. Dentre todas as vinícolas por onde passamos, essa foi a que mais tivemos dificuldade para encontrar, talvez por ser um pouco mais longe e por não haver uma sinalização muito precisa nas estradas.
Panorama de parte dos 8,5 hectares de vinhedos plantados na Bodega Artesana, vinícola-boutique da região de Canelones
O tempo estava chuvoso, mas ainda assim fomos dar uma volta pelos vinhedos, que correspondem a pouco mais de oito hectares de uvas plantadas – uma extensão grande para o país, onde 75% dos vinhedos têm até cinco hectares. Uma curiosidade é que a vinícola não produz vinhos brancos.
Metade da produção da Artesana é de uva tannat. Também há uma pequena quantidade das variedades merlot e cabernet sauvignon.
Os outros 35% são da uva zinfandel, muito popular na Califórnia, nos Estados Unidos. A Artesana é a única bodega do Uruguai a utilizar essa cepa na preparação de seus vinhos. Para nós foi uma novidade, já que nunca havíamos bebido vinhos dessa uva.
Vinícola jovem – A Artesana é uma vinícola jovem e nasceu quando o norte-americano Blake Heinemann conheceu o Uruguai e a sua uva emblemática, a tannat. Ele logo percebeu a riqueza da região e costuma ressaltar a elegância dos vinhos feitos com a uva:
– A tannat é uma uva muito especial. Ela tem um sabor picante e exótico que pode ser audaz, elegante e complexo – avalia.
Galpão onde ficam os tanques de armazenamento e onde ocorre parte do processo de produção da vinícola
Assim, em 2011, inicia-se a produção dos vinhos da Artesana. Todos os equipamentos, de origem francesa e italiana, ficam em uma espécie de galpão, de apenas 300 m², onde ocorre parte do processo de fabricação.
No mezanino desse prédio há uma sala de estar, com uma linda varanda com vista para os exuberantes vinhedos (foto que abre o este texto). É nesse local, onde há uma grande e rústica mesa de madeira, que é feita a degustação, acompanhada de queijos, frios, castanhas e pão.
Provamos quatro vinhos. O tannat é gostoso, fácil de beber e não tem nem de longe aquela “dureza” de alguns vinhos feitos com a uva que já havíamos provado antes da viagem. Pela primeira vez experimentamos um vinho da uva zinfandel. É diferente e nos pareceu leve e fresco, muito bom.
Um dos vinhos que nos chamou bastante atenção foi um rosé feito só de tannat. Ele tem uma cor linda, mais forte que boa parte dos rosés e é bastante frutado e suave. Outro que degustamos foi um vinho feito com o corte de tannat e zinfandel. Essa última suaviza o corpo e o sabor da tannat: maravilhoso.
O mais legal nessa degustação foi a tranquilidade e até a privacidade que nos foi dada. A nossa guia explicava as especificidades de cada um dos vinhos e, depois, deixava-nos à vontade.
Da varanda da vinícola, é possível ver ao longe parte dos vinhedos e do extenso terreno da propriedade
Por várias vezes, ela nos perguntou se gostaríamos de repetir algum. Nós, que não negamos fogo, repetimos vários. A calma era tanta que conversamos à beça entre nós e parecia que estávamos em um almoço. Foi uma degustação muito rica em informações, em descontração e em sabor.
Mulheres no comando – A bodega é comandada por duas enólogas, Analía Lazaneo e Valentina Gati. O trabalho delas preza a qualidade por meio de uma elaboração muito cuidadosa, com um controle minucioso que vai desde o cultivo da uva até a garrafa. O objetivo é respeitar a diferença entre as cepas e fazer o mínimo de intervenção possível para que a uva se expresse.
– Esse tipo de trabalho faz com que eu me sinta uma artista e, todos os dias, reafirmo que o vinho é um estilo de vida – diz Analía.
As enólogas da Artesana fazem parte da Asociación de Mujeres del Vino de Uruguay (Associação das mulheres do vinho do Uruguai). Uma pequena plaquinha na sala de degustação fez com que tivéssemos certeza de um aspecto que já havíamos reparado e comentado entre nós.
A maior parte das vinícolas que visitamos tem mulheres explicando, orientando e comandando. Foi uma grata surpresa termos visto as mulheres conquistando mais espaço também nesse mundo do vinho.
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