Apesar de a Bodega Juanicó ser a maior produtora de vinhos do Uruguai, com capacidade para fazer cerca de 10 milhões de litros da bebida por ano, não a conhecíamos e só havíamos ouvido falar da Don Pascual, a linha mais popular da vinícola. Chegando à sua sede, em Canelones, a cerca de 30 minutos do centro de Montevidéu, fica claro que se trata de um grande estabelecimento recheado de história, dentro de seus casarões construídos pelos jesuítas no século XVIII, que criavam gado e cavalos na propriedade.
É em 1830 que a história do lugar se une ao mundo do vinho, quando Don Francisco Juanicó inicia a construção de uma cave subterrânea, toda feita de pedras, para começar a produção de vinhos finos. Quase um século e meio mais tarde, em 1979, a Familia Deicas assume a produção e inicia uma mudança de mentalidade na elaboração da bebida, que privilegia o uso da mais alta tecnologia e o investimento industrial sustentável.
A impressionante cave subterrânea, toda feita de pedras, que começou a ser construída em 1830 por Don Francisco Juanicó
Essas mudanças atingiram também os vinhedos e foi privilegiado o plantio das cepas francesas. Isso porque, a partir de estudos do solo e do clima do lugar, a família concluiu que as virtudes da região são as mesmas encontradas em Bordeaux, na França.
Panorama de plantações de videiras na Juanicó: 30 variedades que ocupam mais de 200 hectares de vinhedos próprios
Visita – A visita que fizemos à bodega começou pelas videiras. Vimos plantações de cepas como sauvignon blanc, viognier, chardonay, entre outras brancas, e tannat, cabernet sauvignon e cabernet franc, dentre as tintas. Porém, são mais de 30 variedades plantadas nos mais de 200 hectares de vinhedos próprios.
Um dos casarões construídos no século XVIII pelos jesuítas, que criavam gado e cavalos na extensa propriedade
Passamos depois pelo recém-construído prédio onde ficam os tanques de fermentação. Em seguida, fomos ao lugar mais incrível da vinícola, a histórica cave subterrânea onde os vinhos são guardados dentro dos barris de carvalho para envelhecer.
Nessa casa há uma linda sala, com móveis históricos, onde é feita a degustação. Na parte de trás, há um salão para eventos. No dia da nossa visita, seria realizado um casamento no local. Nesse espaço, há ainda uma espécie de bar, que funciona também como loja de vendas dos produtos da vinícola.
Degustação – A degustação que fizemos lá foi uma das mais completas, com cinco rótulos. Cada vinho era harmonizado com um “petisco” específico.
Casa onde ficam a sala de degustações, o salão de eventos, a loja de produtos da vinícola e a cave subterrânea
Começamos com o espumante rosé Castelar. Ele é feito de um corte das uvas pinot noir e pinot meunier.
Nós gostamos bastante desse que foi um dos poucos espumantes oferecidos pelas degustações das bodegas uruguaias. Para acompanhar, queijos leves e castanhas.
Depois fomos ao tinto Atlántico Sur Single Vineyard, da linha Deicas, feito só de pinot noir. O vinho é mais para leve, bem gostoso, e foi acompanhado de frios, pães artesanais e azeites.
Em seguida, foi a vez e degustarmos o Preludio Barrel Select (2009). O vinho é uma combinação de cinco uvas: tannat, cabernet sauvignon, cabernet franc, merlot e petit verdot.
O tinto é um dos xodós da vinícola e é elaborado a partir de uma prolongada maceração, de mais de três semanas, que tem como objetivo concentrar aromas e sabor de frutas e flores. Ele passa de 24 a 30 meses em barricas de carvalho.
O vinho é excepcional e veio acompanhado de churrasquinho de frango, de carne bovina e de carne de porco. A pessoa que orientou toda a degustação nos aconselhou a comer o frango e a deixar o restante para o próximo vinho, o mais encorpado. A harmonização foi perfeita.
O último foi outro tinto, o Massimo Deicas Tannat (2009), que já estava decantando há algum tempo quando começamos. Sua cor, bem puxada para o violeta, deixou-nos bastante curiosos.
No paladar, sentimos muito um sabor de frutas mais escuras, talvez ameixa e tâmara. Um vinho muito bom, com bastante tanino, mas muito equilibrado. Acompanhando os espetinhos de carnes vermelhas e legumes, foi sensacional.
‘Sobremesa’ – Quando achamos que não tinha como ficar melhor do que já estava, veio, para finalizar, o licor de tannat. O que é aquilo? Já beberam? A impressão que tivemos é de que poderíamos continuar bebendo sem parar, de golinho em golinho. Que maravilha, que “sobremesa”.
E foi assim, mais do que satisfeitos com a refeição que havíamos feito, entre o café-da-manhã e o almoço (!), que saímos de lá com a certeza de que comida boa e vinho bom – harmonizados com a companhia de quem se ama – estão entre os maiores prazeres da vida.
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