A vinícola H. Stagnari se apresenta como “a bodega do tannat mais premiado do mundo”. Quando lá estivemos, no fim do ano passado, a informação nos foi dada, mas não nos aprofundamos nela porque não é nosso objetivo elaborar rankings. Ainda assim, vale o registro de que, no 22º Vinalies, concurso realizado em fevereiro passado na França, a vinícola levou 7 das 14 medalhas ganhas por vinhos do Uruguai. Sem dúvida, um belo cartão de visitas.
Foram duas de ouro, para os vinhos Tannat Viejo 2012 e Tannat Viejo 2013, e cinco de prata, para vinhos de diferentes linhas e que vão de safras de 2012 a 2015. Em todos eles, a tannat, uva-ícone do país, está presente, sozinha ou compondo cortes com outras variedades tintas, como marselan e cabernet sauvignon.
Vinhedos da bodega em La Puebla, onde são plantadas apenas variedades brancas como viognier e chardonnay
História – Tudo começa em 1978, quando o fundador da vinícola, Héctor Stagnari, conclui a Escola de Enologia e vai aprofundar os estudos, primeiro em Bordeaux e Chateauneuf du Pape, na França, e depois na Califórnia. Ao voltar para o Uruguai, inicia-se no negócio do vinho. Depois de várias pesquisas, compra terras em La Caballa (na região de Salto, noroeste do país), e planta suas primeiras videiras.
A escolha, não por acaso, recaiu sobre a mesma região que tem íntima e histórica relação com a tannat. Foi lá que, em 1874, o imigrante basco-francês Pascal Harriague plantou pela primeira vez essa cepa francesa que havia trazido consigo. Ao longo do tempo, por questões de solo e climáticas, ela se tornaria a uva-mãe da viticultura uruguaia. Tanto é assim que, nos primórdios, a uva era chamada de harriague.
Visita – No ano 2000, Héctor e a mulher Virginia terminam a construção da bonita sede atual da vinícola que visitamos em La Puebla (em Canelones, a 20 minutos do Centro de Montevidéu). Chegamos no meio da tarde e fomos recebidos por um dos herdeiros da família, o jovem Franco Stagnari. Ele é gerente de turismo da bodega e foi o nosso guia num tour exclusivo, já que não havia outros visitantes, por todas as etapas de produção.
A H. Stagnari produz mais de 30 vinhos, incluindo espumantes. Todos são elaborados com uvas próprias da bodega, que tem vinhedos tanto ali em La Puebla – onde planta uvas brancas como chardonnay, viognier e gewurztraminer – como em La Caballa, onde são cultivadas cepas tintas como cabernet sauvignon, petit verdot e marselan, além da estrela tannat.
Primeiro, fomos conhecer parte da plantação e das máquinas modernas utilizadas para a fabricação dos vinhos. Em seguida, descemos à cave, local onde os vinhos de guarda ficam amadurecendo em barris de carvalho. Lá, ouvimos explicações sobre a produção dos espumantes, todos feitos pelo método tradicional, e pudemos testemunhar a colocação das rolhas e dos rótulos em garrafas de vinho.
Degustação – Depois, chegou a hora de experimentarmos alguns vinhos. A prova, conduzida pelo próprio Franco, foi realizada na varanda toda feita de madeira do segundo andar de uma linda casa de pedra, de frente para os vinhedos.
Optamos pela degustação simples. Foram quatro vinhos, sendo um branco (da uva viognier) e um tinto (tannat) jovens, além de outros dois tintos de guarda. Um deles era o posteriormente premiado Tannat Viejo 2013. Para acompanhar, queijos e frios.
A casa de pedra em cuja varanda de madeira fizemos a degustação, de frente para os vinhedos (foto que abre esse texto)
A outra opção seria a degustação chamada de alta gama. Inclui um branco jovem, três tintos de guarda “top” ou premium, e ainda um espumante à escolha, entre os tipos Nature, Extra Brut, Brut ou Brut Rosé.
Na nossa degustação, gostamos do branco, mas nem tanto dos tintos. Talvez devêssemos ter preferido a outra degustação, com o espumante e os vinhos de alta gama, na qual talvez o estilo de fazer vinhos da Stagnari possa se exprimir melhor.
Daqueles que provamos, a impressão que nos ficou, no geral – e explicando de forma bem leiga – foi a de um gosto mais para o “doce”. Claro que eram vinhos finos e, portanto, “secos”, mas havia algo remetendo a uma certa doçura e, para nós, a um equilíbrio não muito claro entre acidez e álcool, “estranho” para o nosso gosto, por assim dizer.
Mas vinho é isso. Não existe pior nem melhor, e sim o que você mais gosta ou menos gosta em determinado momento ou fase da vida. Há aquele que encanta ou desaponta nessa ou naquela ocasião e até em garrafas diferentes de um mesmo vinho.
De toda forma, valeu muito a pena conhecer essa vinícola que já alcança sucesso inclusive fora do Uruguai. E constatar que o estilo dos seus produtos de fato se encaixa no conceito que eles mesmo se atribuem: “vinhos de autor”.
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